A morte é considerada um dos maiores mistérios da humanidade, apesar de ser uma certeza inquestionável. Enquanto a cultura, religião e filosofia tentam prever o que pode haver do outro lado, a ciência pode explicar o momento entre a vida e a morte. Do ponto de vista neurológico, a morte ocorre quando o sistema nervoso central deixa de funcionar permanentemente. A forma como ocorre a morte varia de pessoa para pessoa. Em casos de morte lenta devido a falência de múltiplos órgãos, o corpo prioriza o funcionamento do cérebro, coração e rins. Já em mortes que não envolvem o cérebro inicialmente, outros processos acontecem.Dois estudos foram realizados para investigar as memórias e as sensações relacionadas à morte. O primeiro, chamado "Aware", publicado em 2014 na revista Ressuscitation, entrevistou 101 pacientes que sofreram uma parada cardíaca, mas foram salvos com tratamento médico. Quase metade não se lembrava de nada, enquanto pouco mais de 40% relataram memórias detalhadas, como ver pessoas ou plantas, ou sentir medo intenso. Aproximadamente 9% relataram fenômenos semelhantes a experiências de quase morte.
O segundo estudo, publicado na revista Frontiers in Aging Neuroscience, permitiu que os pesquisadores analisassem as imagens de um cérebro exatamente no momento da morte. O paciente, de 87 anos, tinha epilepsia e estava realizando um exame de eletroencefalografia quando sofreu um ataque cardíaco. As imagens mostraram oscilações gama antes e depois do momento da morte, com mais de 32 hertz de frequência.
As ondas gama sincronizam a atividade dos neurônios e também estão associadas a fatores como memória, meditação e sonhos. Segundo o neurocirurgião, durante a fase REM do sono, quando há alta atividade cerebral e relaxamento do corpo, essas ondas de alta frequência podem ser detectadas.
O neurocientista sugere que esses resultados suportam a ideia de que no momento da morte, antes da consciência se desvanecer, pode haver uma superconsciência, em que memórias importantes e emocionais são acionadas, como um filme da vida. No entanto, isso não pode ser provado, mas faz sentido do ponto de vista elétrico. Em alguns casos, especialmente em mortes súbitas ou extremamente dolorosas, pode ser difícil ter qualquer tipo de sensação.