A melodia suave do rap ganhou vida em abril deste ano através de uma colaboração surpresa entre os famosos astros musicais The Weeknd e Drake - ou foi isso que os ouvintes pensaram. Os rappers supostamente uniram forças na faixa "Heart on my sleeve", insinuando traições passadas da ex-namorada de The Weeknd, Selena Gomez. No entanto, os gigantes da música nunca gravaram a faixa. Acontece que a música, que se tornou um grande sucesso com mais de 10 milhões de reproduções no TikTok, foi uma criação da inteligência artificial.
A música foi publicada por um usuário anônimo denominado Ghostwriter, que utilizou a tecnologia para simular as vozes de The Weeknd e Drake. Apesar da qualidade duvidosa da gravação, a música viralizou, chamando a atenção da Universal Music, a gravadora de The Weeknd.
A faixa foi removida de plataformas musicais a pedido da Universal Music. Paralelamente, a empresa está solicitando que faixas de seu catálogo não sejam usadas para treinar ferramentas de inteligência artificial. Os questionamentos em torno dessas situações têm o potencial de alimentar debates jurídicos fervorosos nos próximos anos.
No meio deste tumulto, a internet se viu inundada por montagens humorísticas de vozes famosas cantando músicas que não são originalmente delas. Um exemplo disso foi o estudante João Victor Xavier que, com a ajuda de um algoritmo, fez Ariana Grande "cantar" um rap do sertanejo Zé Felipe, alcançando quase 700 mil visualizações.
As implicações legais deste fenômeno ainda são nebulosas, já que o direito de personalidade protege o uso da voz de uma pessoa contra usos não autorizados. No entanto, como a voz da IA não é exatamente a voz de uma pessoa real, ainda não há uma resposta jurídica clara para isso.
A questão dos direitos autorais para músicas criadas por algoritmos também entra no debate. Alguns países, incluindo o Brasil, só reconhecem direitos autorais para obras que envolvem criatividade humana. Contudo, outras jurisdições, como a China, já reconheceram direitos semelhantes ao autor para o operador do algoritmo ou para a empresa que criou a ferramenta de IA.
Artistas e produtores estão começando a explorar as possibilidades criativas que essa tecnologia oferece. O Google, por exemplo, está testando a ferramenta Music LM, que pode criar músicas a partir de descrições textuais. A ferramenta é vista por muitos como o futuro do autotune, um programa que altera a voz para corrigir erros ou criar distorções.
Enquanto a tecnologia avança, o produtor musical Mulú acredita que também haverá uma valorização crescente da música 100% orgânica, feita sem intervenção digital.