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'Eu o traí': veja relatos sobre motivos da separação em mutirão de divórcio

Na noite desta terça-feira (3), o Profissão Repórter desembarcou na cidade de Águas Lindas de Goiás para acompanhar um evento marcante: um mutirão de divórcio organizado pela Defensoria Pública do estado.

Nesse curto período de dois dias, incríveis 45 casamentos chegaram ao fim. Surpreendentemente, em 69% dos casos, as iniciativas para o divórcio partiram das mulheres. Maria do Rozário e seu ex-companheiro, casados por seis anos, compartilharam sua experiência. Segundo Maria, a relação chegou ao seu fim quando o marido, de forma ríspida, exigiu que ela lavasse seu uniforme de trabalho.

"Já era meia-noite quando ele virou para mim e falou: 'Vai lavar o meu uniforme agora'", relembrou Maria.

Para Maria, a separação foi motivada pela falta de comunicação e diálogo. Ela chegou a entender que seu marido simplesmente não gostava de conversar com ninguém.

Seu ex-esposo concordou com a falta de diálogo como um problema, mas negou ter agido de forma grosseira. "Se ela considera um pedido para lavar uma roupa uma falta de respeito, realmente, não tem como ter convivência, porque acho que isso é o mínimo", se defendeu. "Não é motivo suficiente. Isso significa que a gente está no lugar certo [no mutirão], porque isso demonstra que nunca teve amor nenhum", completou.

Com a ajuda da Defensoria Pública, o casal chegou a um acordo. Cada um ficaria com parte da mobília, o homem permaneceria na casa e depositaria R$ 500 por mês para Maria. Eles foram um dos poucos casais do mutirão a assinarem o divórcio de maneira consensual.

Os motivos para as separações eram diversos, incluindo a falta de diálogo, a monotonia na rotina e casos de traição.

Josi Neves, esteticista, refletiu sobre sua experiência: "Não tinha maturidade o suficiente para um relacionamento como o casamento."

A rotina no casamento também foi citada como um fator desgastante. Naiara Assunção, doméstica, explicou: "Rotina, ficar só em casa. Trabalho em casa, aí não sai, não curte a vida a dois."

Após o auge da pandemia, os casamentos voltaram a crescer no Brasil, mas o número de divórcios está atingindo níveis recordes. São os maiores em uma década, com pelo menos 386 mil casos registrados. A duração média dos casamentos no Brasil agora está no menor patamar já registrado, com apenas 13 anos.

Durante a reportagem, o repórter Chico Bahia e a repórter cinematográfica Gabi Vilaça conheceram a história do casal Pedro de Araújo, pedreiro, e Silene de Melo, empregada doméstica.

Pedro explicou: "Não tem diálogo. Começa a falar, é discussão." Enquanto Silene acrescentou: "A gente sempre se entendeu sim. Ele que é orgulhoso."

Depois de 26 anos juntos e 12 meses separados, Pedro e Silene decidiram seguir caminhos diferentes. A traição foi o motivo revelado por Silene para o divórcio. "Eu traí ele. Agora, ele é orgulhoso, e não aceitou [as desculpas]", confessou.

"Comigo não é assim. Traição para mim é final de relacionamento. Hoje, o sentimento é pouco. Não vou mentir, eu ainda tenho sentimentos por ela, porque foi um amor de 26 anos", afirmou o pedreiro.

Silene alegou que a traição foi motivada pela carência. "A pessoa me deu muita atenção, cuidou de mim. Ele não estava mais cuidando. Ninguém é perfeito, não, e ele se acha muito perfeito", disse a doméstica, em sua defesa.

Ambos assinaram o divórcio durante o mutirão e receberam orientações da defensora pública, encerrando um capítulo significativo de suas vidas.