entrevista com Nicole de Sordi, Silvia Barbi e Bianca Mendes.
Ser mãe é um verdadeiro desafio, e quando realmente desejada, torna-se uma vivência repleta de aprendizados, alegrias e um verdadeiro jogo dos pratinhos para equilibrar várias áreas que precisam de atenção. Dar à luz a um ser humano, é também dar à luz a uma nova versão de si. Uma versão que assim como o bebê, precisará de cuidado, nutrição, carinho e paciência para se desenvolver.
Para além do nascimento de uma mãe, quais os principais desafios e resoluções para lidar com essa responsabilidade tão especial? Nesse artigo vou contar a perspectiva de três mulheres que lidaram e ainda lidam de forma magnífica com as responsabilidades diárias de formar outros seres humanos.
Para a nutricionista Nicole de Sordi ver um ser humano se desenvolver com a sua contribuição é algo maravilhoso, ela acredita que a rotina acaba sendo um motivo de felicidade, os gestos de carinho, amor e cuidado, é um retorno à nossa própria infância e a oportunidade de vivê-la novamente. Nicole também relata que a privação da individualidade da mulher é um dos maiores desafios que enfrenta como mãe, e aconselha que o retorno aos seus próprios interesses é a luz para se resgatar como um indivíduo.
Ao ser indagada sobre seu segredo para equilibrar a maternidade e a carreira, ela menciona que é fundamental elegermos prioridades ao lidarmos com as situações, e mesmo assim, o equilíbrio é utópico, muitas vezes buscá-lo pode causar frustrações, portanto não se cobrar é essencial para conseguir aproveitar o trabalho mais importante da sua vida, que aliás, pode mudar a cada instante. A nutricionista ainda deixou um conselho, que é o de ser doce consigo, para poder oferecer o mesmo aos seus filhos, reforçou também, a importância de ser escuta e apoio para outras mães, pois a maternidade não precisa ser solitária.
A cabeleireira e maquiadora Silvia Barbi também compartilhou um pouco do seu olhar acerca da maternidade, relatando que educar, transmitir seus valores, e ver sua filha doente, estão entre as coisas mais complicadas que enfrenta, entretanto, acompanhar sua evolução, ver seus sorrisos, sentir seus abraços, é uma felicidade indescritível.
Quando questionada sobre o seu segredo para manter o equilíbrio, Silvia me respondeu rindo que simplesmente não há segredo, com o passar do tempo descobriu que a vida é muito mais legal do que “pintamos”, e que curtir o seu filho, pega-lo no calo, dormir junto, aproveitar o máximo os momentos, faz tudo valer a pena, pois a vida passa rápido demais para vivermos apegados à regras. Seu conselho foi que apesar da maternidade ser cansativa, é um barato saber que um ser humano que cresceu em você, tem suas próprias ideias e vontades, que é doido demais e também delicioso demais.
Mais uma mamãe que contribui com este artigo foi a Bianca Mendes, que é assistente administrativa, e batalha diariamente para lidar com a sua rotina de mãe e trabalhadora. Bianca relatou que seu maior desafio é educar duas crianças de forma respeitosa, empática, e que lidar com as famosas “birras” também é uma das partes mais complicadas. Mas ser reconhecida como um porto seguro, faz com que tudo isso valha a pena.
A assistente ainda deu a dica de que estabelecer uma rotina regrada a ajudou a conduzir a vida entre ela e suas duas filhas, e que a maternidade foi o que moldou a mulher que é hoje, lhe trazendo o sentimento de que é capaz de realizar qualquer coisa.
Bianca deixou relato muito sensível e pessoal sobre a sua maternidade, que com certeza servirá de afago para futuras mães:
“Me falaram sobre mamadeiras, chupetas, me contaram sobre marcas de fraldas, pomadas, lenços umedecidos, me pediram para dormir quando o bebê dorme, para começar a amamentação em livre demanda, e para não comer feijão ou chocolate, me avisaram que eu deveria beber muita água, e acostumar o bebê com barulho. Porém, o conselho que eu desesperadamente precisava ouvir, demorou para chegar. Algo simples, e tão óbvio, que ficou no esquecimento: "Se cuida". Cuide de você. Tome banho, lave o cabelo, tire o pijama. Se permita ouvir seus medos e esta mistura maluca de emoções no corpo de quem acabou de parir um novo ser. Fale de outros assuntos. Fale sobre o tempo, sobre novela, sobre aquela receita deliciosa que alguém publicou nas redes sociais. Fale sobre qualquer coisa. Mas fale. Fale sobre esta inquietude que toma conta do coração. Entenda que é OK não se sentir OK. Você é a melhor mãe que seu filho pode ter, e isto já basta. Respire. Respire novamente. Feche os olhos. Escute seu coração. Chore. Chore um pouco mais. É normal. Vai passar. Saia de dentro de casa. Vá a padaria, ao parque, vá para qualquer lugar, mas vá! Estes dias longos, que se misturam com noites, e que se fazem dias novamente, eles ficarão para trás. E você já nem se quer lembrar se foi um sonho, se estava anestesiada, ou que raios foi este furacão que invadiu a sua vida. E daqui alguns anos, numa quarta-feira qualquer, você encontra uma foto. Lá estava você, cabelo sem lavar, olheiras aparentes, rosto cansado, carinha arredondada. Segurando aquela mini pessoa. Que saudade. Quanto amor! Você então se olha novamente, e reconhece a fragilidade e o medo no olhar daquela menina mulher. Tão forte e tão indefesa. E se tivesse o poder de voltar por 5 segundos para aquele momento, você iria correndo, ajeitaria os cabelos, lavaria o rosto cansado, daria um abraço apertado, um beijo, e falaria: "- se cuida, o tempo passa voando.”
Confesso que fiquei emocionada com o relato dessas mulheres tão fortes e cheias de si, eu como uma mamãe em formação, me senti inspirada e muito bem aconselhada.
É preciso destacar que a maternidade não deve ser imposta a nenhuma mulher, em nenhuma circunstância. Por si só trata-se de um grande desafio, então acredito que deve ser um desafio pelo qual a mulher aceite e realmente deseje passar.
Dizem que a maternidade não deve ser romantizada, pintada como um momento no qual a mulher é iluminada e se torna outro ser rapidamente, e concordo… Creio que a maternidade é uma eterna evolução, uma verdadeira privação na qual você muitas vezes terá de priorizar outro ser, na qual o cuidado é até mais importante do que o próprio amor, o qual sem dúvidas existe, e que com o tempo, se fortificará.
Mas afinal, como diria a escritora e ativista bell hooks, amar é cuidar e é querer que o outro evolua. Então qual demonstração de amor seria maior do que a maternidade?