Algumas espécies de peixes de águas profundas evoluíram para ter uma pele mais negra que o preto comum, ajudando-os a evitar predadores ou a se aproximarem sorrateiramente de suas presas.
O que é um peixe ultra-negro?
De acordo com um estudo publicado na revista Current Biology, 16 espécies de peixes de águas profundas foram identificadas com essa característica única, conhecida como "ultra-negritude". Essas espécies refletem menos de 0,5% da luz que incide sobre sua pele, enquanto, por comparação, o papel preto reflete cerca de 10% da luz.
Esses peixes se destacam por serem alguns dos animais mais escuros do mundo, superados apenas por materiais artificiais como o desenvolvido pelo Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), que reflete apenas 0,005% da luz.
Por que esses peixes são ultra-negros?
Enquanto outros animais, como as aves-do-paraíso e algumas borboletas, usam pigmentos ultra-negros para destacar cores vibrantes, os peixes de águas profundas evoluíram essa característica para passarem despercebidos, seja para se esconderem de predadores ou para surpreenderem suas presas.
Segundo o biólogo Alexander Davis, da Universidade de Duke, alguns desses peixes usam essa camuflagem para evitar predadores que caçam à espreita, enquanto outros evitam revelar sua presença às suas presas. Um exemplo é o pacific blackdragon (Idiacanthus antrostomus), o segundo peixe mais escuro estudado, que utiliza sua ultra-negritude como estratégia de sobrevivência.
Como os peixes ultra-negros absorvem a luz?
A pele desses peixes é composta por pacotes de pigmentos pretos organizados de forma a absorver quase toda a luz. Isso difere da pele de peixes comuns, que possui uma camada de colágeno ausente nos peixes ultra-negros, tornando sua pele mais frágil e gelatinosa.
Adaptação às profundezas luminosas
Embora as profundezas do oceano possam parecer escuras, há bastante luz bioluminescente gerada por outros animais. Predadores utilizam "holofotes", crustáceos emitem nuvens de luz ao se sentirem ameaçados, e algumas criaturas têm iscas luminosas para atrair presas. Nesse ambiente, a ultra-negritude se torna essencial para a sobrevivência.
O menor ultra-negro: o "sonhador"
Entre as espécies encontradas, o mais negro é um pequeno tamboril chamado "sonhador", que mede apenas cinco centímetros. Ele utiliza sua cor extrema para emboscar presas atraídas por sua isca bioluminescente, localizada na cabeça.
O futuro da pesquisa
O ictiólogo Prosanta Chakrabarty, da Universidade Estadual da Louisiana, acredita que outras espécies ainda mais negras podem ser descobertas nas profundezas inexploradas dos oceanos. Segundo ele, "sabemos mais sobre o espaço do que sobre o fundo do mar".
Estudar esses peixes ajuda a entender as estratégias de sobrevivência em um ambiente onde, muitas vezes, o predador de hoje pode se tornar a presa de amanhã. Afinal, como Chakrabarty conclui: "É um mundo onde peixes comem peixes".